Páscoa de Esperança e de Ressurreição

Roma (Itália). A Madre Geral do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, Irmã Yvonne Reungoat, envia uma mensagem a todas as Comunidades Educativas e à Família Salesiana, desejando uma Páscoa de esperança e ressurreição.

“É um momento em que as comunidades educativas são chamadas a ficar em casa, a fazer experiência de intensa oração, de fraternidade serena e alegre. É oportunidade de redescobrir o valor do essencial que «nos estimula a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas triviais; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor» (Papa Francisco, Homilia no Domingo de Ramos, 5 de abril de 2020).

Transcreve-se o Texto integral da Mensagem da Madre Geral do Instituto FMA.

«Queridas irmãs,

Desejo estar em comunhão profunda com todas vós, estar convosco, onde quer que estejais, para partilhar tudo o que sinto no coração, neste tempo em que nos preparamos para viver o Mistério Pascal de Jesus: mistério de morte e ressurreição.

É uma Páscoa sem precedentes que estamos prestes a celebrar, marcada pela situação dramática da pandemia de Covid-19, que causou um forte impacto em todos os países. Perante essa situação imprevisível e perturbadora, o medo, o pânico e a perplexidade podem invadir os nossos corações e sentimentos e, de repente, sentir o peso da nossa fragilidade e vulnerabilidade e também o peso do nosso pecado.

Estamos perante o mistério da vida que acreditávamos poder gerir segundo os nossos planos e projetos, confiando no progresso da ciência, por vezes afastada de Deus, Autor da vida. São ainda muito poucos meses para ver desmoronar todas as certezas e nos interrogarmos se o Senhor está presente entre o seu povo que sofre sob o poder de um pequeno vírus potente. Penso que todas compreendemos o valor do silêncio diante desta prova que toda a humanidade deve enfrentar; sentir necessidade de ser fortalecida e confirmada na fé e ter força para acreditar que Cristo ressuscitado está presente e não nos deixa sós.

São reconfortantes as palavras do Papa Francisco: “Hoje, na tragédia da pandemia, diante de tantas certezas que se esboroam, diante de tantas expectativas traídas, no abandono que aflige os nossos corações, Jesus diz a cada um: «Coragem: abre o coração ao meu amor. Sentirás a consolação de Deus que te dá força» (Homilia, Domingo de Ramos, 5 de abril de 2020). Essa certeza dá paz ao nosso coração e força para entender que Jesus vive hoje a sua Paixão em muitos irmãos e irmãs, em numerosas famílias e comunidades religiosas provadas pela doença ou morte dos seus entes queridos.

Jesus pede-nos que o saibamos acompanhar no caminho do Calvário, para depois prosseguir com Ele para a vida nova da ressurreição. A nossa vida é inundada de ressurreição, porque redimida pelo acto de amor extremo do Filho de Deus, que não hesitou em morrer na cruz para nos mostrar quão grande é o bem que Ele deseja a todos nós.

É um momento em que as nossas comunidades, todas nós, somos chamadas a ficar em casa, podemos experimentar o valor da oração intensa, da fraternidade pacífica, mesmo que, às vezes, nem sempre seja fácil. Temos oportunidade de descobrir o valor do essencial que “nos leva a tomar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas triviais; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida é medida pelo amor” (Homilia do Papa Francisco mencionada acima).

Nestes momentos a fé e a esperança estão profundamente entrelaçadas e fortalecem a nossa vocação, chamada a ser profecia de comunhão e sinal de solidariedade neste tempo particular.

Sinto que devo dizer a mim e a cada uma de vós que está na hora de sermos mulheres pascais, dispostas a deixar-nos amar por Deus, da maneira como Ele decide; de servir com amor as irmãs e cada pessoa com quem nos relacionamos, com os meios possíveis ao nosso alcance, para estar próximas de quem sofre solidão e de quem espera uma simples palavra de consolo. Quem sabe quantas pessoas esperam de nós uma palavra, um telefonema, uma oração que pode aliviar o seu sofrimento!

Mulheres pascais, porque na oração rezamos por intenção de toda a humanidade; pelos que estão doentes, por aqueles que dão a sua vida para salvar a dos outros, pelos que morrem sós, e são tantos!

Mulheres pascais que vêem, com o olhar de Jesus, os pobres, seus prediletos, aqueles que não se podem proteger do risco de contágio, privados de tudo, que sofrem a fome, abandonados a si mesmos.
A alegria da Páscoa deste ano, tão diferente das anteriores, encontra a sua raiz profunda nesses gestos de caridade, pequenos, mas importantes, sustentados por uma esperança inabalável que acompanha cada ressurgir. Com Jesus, vivamos a experiência de que o Amor é mais forte que a morte.

Mulheres pascais que sabem agradecer a solidariedade testemunhada de tantas formas por diferentes pessoas. Penso em tantos jovens corajosos, conhecidos ou não por vós que dão o seu tempo como voluntários e decidem estar perto das pessoas doentes com a mesma atitude do bom samaritano; jovens que, com a sua frescura e realismo, dizem que “tudo ficará bem!”.

Ser gratos aos adultos que, com toda a competência, cumprem o seu “dever” de dar o melhor de si até às últimas consequências.

Tantos testemunhos de humanidade, fé e esperança se têm constatado neste tempo de grande provação. Viu-se à luz do dia a verdade de um povo capaz de ir além das diferenças para abraçar o irmão necessitado!

Neste clima tão particular, desejo que todas penetrem a mensagem que Jesus ressuscitado nos deixa hoje, que queremos valorizar e não deixar perder. Certamente que nos quer dizer algo de novo e deixa-nos a liberdade de o compreender com a luz que pedimos ao Espírito Santo. Que Jesus nos ajude a abrir-nos à novidade do futuro, porque depois desta crise nada será como antes. A mudança deve acontecer primeiro na nossa pessoa e em cada comunidade. Abramo-nos ao mistério da morte à vida!

Queridas irmãs, a vós, aos vossos familiares, aos membros da Família Salesiana e a cada pessoa que vos é querida, jovens e adultos, desejo uma Santa Páscoa de Ressurreição e Esperança. Agradeço sinceramente os muitos votos que me foram enviados. Gostaria de responder pessoalmente a todos, mas não me é possível. Faço-o agora, aqui, assegurando-vos a minha gratidão que se transforma em oração constante.

Que o Ressuscitado seja a nossa paz, a nossa alegria, a nossa força e nos ajude a deixar-nos tocar pelos sofrimentos da humanidade para os levar Àquele que dá sentido à nossa esperança.
Maria, que venceu a dor, apoiada na sua grande fé, esteja sempre perto de toda a humanidade e nos acompanhe nesta hora de graça.

Que o Senhor da Vida vos abençoe e, n’Ele, sintam todo o meu afecto, confiança e gratidão».

Roma, 9 de abril 2020

Irmã Yvonne Reungoat
Superiora Geral do Instituto FMA